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Cyntia Pinheiro
Uma mulher subiu na mesa do bar e fez da saia um disco voador
Textos
Beleza comprada

Eu compro a beleza da pele,
Dos lábios grossos, dos cabelos lisos.
Eu pago caro pelo tecido fino,
Pelas botas de couro
Pelo ouro, pelo domínio.

Vendem-me beleza
Eu a compro em pílulas e cremes mágicos
Eu compro a maçã do amor
E até pelo amor eu pago.

Vendem-me o biquíni, o jeans
Vendem-me a pose, a foto
Só não me vendem ideias
Nem de ideias eu gosto.

Eu compro a moça bonita
E a malha de ginástica dela
Eu compro as unhas enormes
Os cílios falsos, a massagem
Enderma.

Me mato pelo botox
Pela beleza esticada do tempo
Tempo tão curto quanto meu couro
Tão caro quanto meu cabelo louro.

Eu compro beleza, você não compra?
Compra também.
Não há quem não compre beleza
Há sempre algo que não está bem.

Me vendem beleza na ponta dos dedos
Eu compro no crédito
Em parcelas miúdas e eternas
Ou compro e não pago
Por todas elas.

Só acredito em beleza comprada
Não aprecio a beleza pronta
Ela não existe sem maquiagem
Esqueci como é ser bonita pelo lado de dentro.

Todas as telas me vendem beleza
E eu, besta, de quatro
Deixo que me metam
E me metem beleza injetada nas tetas, nádegas e até na rima.

Flor do mato não serve, rústica demais!
Eu pago ao florista para que me agrade
Com flores mortas, de plástico
Dos funerais.

Falando nisso, todo mundo morre
A beleza acaba, a feiúra aumenta
Os vermes comem o silicone
Ou não comem, indigesto (!) - pensam.

Eu comprei toda beleza,
Mas não fiquei com ela
Gastei tempo, caprichos, fortuna.
Morri! Sacanearam comigo!
Morte é coisa gatuna!















Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 11/01/2021
Alterado em 11/01/2021
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