Entre porcos
O menino nasceu entre porcos
Chafurdando com eles na lama
Bicho-de-porco era bicho-de-menino
Lavagem era banquete
Fedor era seu aroma.
O menino cresceu entre sapos
Pegando grilos, jenipapos e formigas.
Fazia de um caquinho sua pira
De uma mola seu quebra-cabeças.
Inteligente sim, mas muito mais sagaz.
A sagacidade sofrida e amuada
De quem aprende com a vida dura e pobre.
O menino era resiliente
Se dobrava qual bambu
Feito dente de leite teimoso
Do jeito que se dobram meninos
Que não se partem
Mas quando se vão são inteiros.
Ele escolheu partir,
Não queria mais ser dos porcos
Queria recolher pérolas
Sentia-se merecedor.
Lambeu o papel de embrulhar o pão
Seu primeiro emprego
Foi embora em meia hora.
Era dos porcos, não aprendera
Como era a vida fora do chiqueiro.
Mas estava acostumado
A ter o couro esticado nas rampas
Pendurado nos ganchos onde se limpam tripas
Sabia-se porco, mas também queria ser menino.
Não desistiu de sonhar
Não desistiu de lutar.
E um dia, já fora do chiqueiro
Viu que o brilho já não era da lâmina
A ameaçar sua barriga.
Era agora um brilho de sol
Iluminando e esquentando sua moleira
Uma moleira de porco, que agora
Era moleira de homem.
Ele conseguiu o que queria
Sair da lama, da bosta,
Da condição que lhe deram.
Venceu na vida como poucos meninos-porcos,
Hoje vale mais de um milhão.
Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 18/12/2021
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.