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Cyntia Pinheiro
Uma mulher subiu na mesa do bar e fez da saia um disco voador
Textos
Aborto, não! Legalização, sim!
Estive refletindo sobre a questão da legalização do aborto e isso me tirou da cama às quatro da manhã porque não consigo ficar fria e não dizer o que penso numa hora dessas. Sobre a prática ABORTO, que fique absolutamente claro, eu sou CONTRA, terminantemente CONTRA e dado o meu contexto geral (e atual) eu JAMAIS faria.
Mas, sinceramente, é preciso ter lugar de fala. Pra começo de conversa homem nenhum deveria dar pitaco em coisa que não entende e jamais entenderá. Vocês não engravidam, queridos! Já pararam para pensar que não devem opinar sobre algo que nunca saberão o que é? Esse é o primeiro ponto e ponto: Homens cagando regra pra mulher, perpetuando o machismo estrutural que, por si só, dá outra pauta! Chega dessa coisa de homens decidindo o que é melhor pra nós, vocês não têm um corpo que menstrua todo mês, que fica inchado, que tem oscilações de humor, que carrega outro ser vivo, que gera, nutre e ama como nenhum outro ser na face da terra. Acham mesmo que abortar é um esporte? Acham mesmo que alguma mulher é feliz matando um ser humano que deveria amar? Acham mesmo que legalizar o aborto é fazer festa e oba-oba com uma matança gratuita de crianças inocentes?
O segundo ponto é: mulher que nunca precisou cogitar a possibilidade de realizar um aborto também deve dobrar a língua. E aqui caminho com cuidado porque eu estou neste lugar de fala. Sou empática por outras mulheres que passam por esse tipo de situação, mas eu nunca passei. Não sei o que é ter uma gravidez indesejada, como não sei o que é passar fome, como não sei o que é ser preta, pobre, favelada, desassistida, excluída, e também não sei o que é engravidar por falta de informação, por falta de assistência, ou simples falta de cuidado.
Ain, mas ela devia ter usado camisinha! Devia, devia mesmo, se ela tivesse dinheiro pra comprar, ou se o mundo não a tivesse apagado socialmente, esquecendo-se de dar a ela o mínimo para viver. Ah! Mas a rica também aborta. Aborta, aborta sim! Seria por esporte? Falta do que fazer? Luxo? Não, minha gente, são vários os motivos que levam uma mulher a abortar e nenhum deles é por sadismo. Os danos físicos e psicológicos que um aborto provoca numa mulher são incalculáveis, você acham mesmo que a bonita abortou porque teve alguma felicidade nisso? Nós, mulheres, não somos essas criaturas perversas que desejam sair por aí matando os próprios filhos. Pense no extremo que isso significa para você, acha que para alguém que vive esse drama isso é diferente? Ela é má e você, só porque nunca abortou, é um anjinho barroco tocando harpa no céu? Atire a primeira pedra, alecrim dourado! Você não erra...
Outro ponto é que os mesmos “cristãozão fodas do caralho” que se dizem a favor da vida do feto se esquecem desse feto depois que ele nasce. Aí o contingente vai aumentando, criança passando fome, criança abandonada, aumento da criminalidade e os “cristãozão” que defenderam o fetinho na barriga da mãe vão bradar em alto e bom som: “bandido bom é bandido morto!” Quanta hipocrisia, não?
Ein, péra! Mas por que não fazer uma política educacional que oriente as mulheres a se prevenirem, que ensine as novatinhas a não transar sem camisinha? Afinal educação sexual é tudo. Sabe por quê, “cristãozão do caralho”? Porque você falou que querem a erotização precoce das crianças, porque você falou que querem colocar kit-gay nas escolas, porque você inventou que os bebês vão mamar numa mamadeira de piroca, quando na verdade o que se deseja é exatamente a prevenção para que situações extremas como o aborto não precisem acontecer. Porque a educação sexual é necessária e urgente!
Se sou contra o aborto? Sim, contra. Absolutamente contra. Mas para ser contra o aborto eu preciso ter coerência e ser a favor da educação sexual, sacou?
Sou a favor da legalização do aborto? Sim, totalmente a favor. Porque não me sinto no direito de criminalizar alguém por algo que só diz respeito a ela mesma. Porque aquele corpo não é meu território e se eu tenho o direito de deliberar sobre o meu corpo outras mulheres também devem ter.
Ain, mas é pecado! Se eu e você podemos escolher os nossos pecados, nossos carmas e dharmas, e assumir as consequências disso para o post mortem, porque cargas d’água alguém pode se achar no direito de definir se o outro pode ou  não “pecar”? Por que cargas d’água eu tenho que me meter na escolha de uma mulher se não vivo a vida dela? Se não conheço seus dramas? Se não sei suas dores? Se não tô na pele dela?
Queridxs, leiam Djamila Ribeiro, leiam Simone de Beauvoir, leiam Carolina Maria de Jesus, leiam Maya Angelou, leiam Conceição Evaristo ... leiam, leiam, leiam mais, muito mais. Aprendam um pouco sobre o que é ser mulher, o que é ser marginalizada só por ser mulher, o que é ser marginalizada por ser mulher, por ser preta, por ser pobre. Depois leiam Lucano, o evangelho de Lucano, não sabe quem é não? São Lucas, leiam o evangelho de Lucas e vejam o quanto Cristo é amor. Descubram o amor que não condena, não julga, não manda as pessoas para o inferno porque elas são pecadoras.
Parem de crucificar mulheres, parem de queimar suas bruxas na fogueira, esse tempo já passou.

Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 05/01/2023
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