Um charco
Há tempos tão despovoados e profundos
vilas tortas, desertos quentes, ventos sibilantes
que em mim desata o pranto persistente
a regar em chuva o algodão do peito.
sou charco de lembranças, insistências,
malfadadas histórias, tramas desmanchadas
e a constância de uma ausência gritante,
terreno baldio, cemitério de covas abertas.
Há tempos tão despovoados e profundos
que sou feito um latifúndio vencido pela geada.
não encontro nenhuma vigarice em mim
disposta a queimar-me na fogueira das bruxas.
pois sou - já disse - um charco
não queimo. esfrio e molho.
para que em mim, naufraguem
algumas de minhas saudades.
Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 05/06/2024