Temos visto nos últimos tempos um planeta em chamas. Mas não é o fogo que vai nos destruir, é a ignorância. Sei que falar que precisamos aprender a eleger pessoas melhores é chover no molhado e chover neste momento até que não seria ruim, entretanto temos visto causas terríveis, com consequências ainda piores e muitas delas ligadas, sim (!), à nossa fraqueza intelectual e à nossa fragilidade moral.
Vimos na última segunda-feira um candidato provocar tanto o outro que este foi capaz de dar-lhe cadeiradas em rede nacional. Isso é vergonhoso, isso é o fundo do poço! Vejam o nível das pessoas que estão pleiteando uma vaga na gestão da maior cidade do nosso país. Entretanto isso não é o pior. Pior é ver que pessoas assim têm chance de vencer a política e isso é uma forma de fracasso coletivo.
Não se trata de A ou B, não se trata mais de direita ou esquerda, não se trata mais de partido político, trata-se de pessoas de masculinidade frágil, tão frágil que precisam destruir a imagem dos outros para alavancar a própria carreira. Isso, por si só, deveria ser razão mais do que suficiente para que esse tipo de candidato fosse banido da política. O problema é que o povo gosta mesmo é de panem et circenses, bem mais do circo do que do pão.
Vivemos uma guerra nas redes sociais e dentro de nossas casas com a disseminação de fake news hediondas, com mulheres sendo vilipendiadas e humilhadas pelo uso de deep face na tentativa de desmoralizar sua reputação. Com homens sendo difamados, caluniados em prol de uma campanha política. Vimos o surgimento de distorções absurdas da realidade para convencimento do eleitorado. Enfim, perdemos as estribeiras de um modo que o Direito já não consegue acompanhar. Vale lembrar que são eles (os deputados também eleitos por nós) que fazem as leis.
A ciência previu um colapso no planeta por conta do aquecimento global e os negacionistas negaram a ciência. A previsão é a de que em 2040 as mudanças serão irreversíveis. Ouso dizer que a ciência anda otimista, pois se seguirmos no ritmo que seguimos, o colapso chegará bem mais cedo para nós.
Nós somos o câncer do planeta e nunca fomos tão perversos. As guerras que estão acontecendo lá fora provam isso. Homens de masculinidade frágil tentam provar por A mais B que são mais (perdoem-me o termo tão vulgar à minha escrita costumeira) “pica grossa” que seus adversários.
A tecnologia vem sendo usada para difamar e caluniar, com o dolo de poder, eventualmente, levar alguém ao autoextermínio. As queimadas criminosas só para culpar esse ou aquele governante. O fechamento de fronteiras para impedir o acolhimento humanitário a pessoas em grave situação. A falta de empatia com nossos iguais e com os que são diferentes de nós. O racismo. A homofobia. A xenofobia. E tantas outras formas de segregar pessoas (o fio é longo para ser puxado).
Enfim, o que nos destruirá é a nossa ignorância, que não custa dizer, rima com arrogância, concorda com ela. Estão de mãos dadas. Essa tentativa desesperada de “ser” das pessoas é o que as torna tão perversas. Ser melhor que o outro, ser mais rico, mais famoso, mais poderoso, ser superior. Uma utopia. Triste de quem só conseguir entender isso quando for tarde demais.
É preciso parar de depositar nossas expectativas em gente como nós, porque se eu me decepciono, se eu falho comigo mesma, imagine o outro que nem mesmo sabe que eu existo. Imagine um político cujos interesses são exclusivamente no sentido de satisfazer seu ego, na tentativa desesperada de completar os centímetros que faltam em seu corpo.
Não sou uma pessoa religiosa, mas sei que na Bíblia (e fui pesquisar), no livro de Jeremias 17:5, diz que: "(...) Maldito o homem que confia no homem (...)". Essa é uma importante reflexão em tempos hodiernos. Precisamos duvidar mais. Parar de abrir enlatados para fácil digestão (nos dois sentidos da frase). Refletir, ponderar. Sair da ignorância. Não dá pra engolir tudo o que querem que nos desça goela abaixo. Mastigue. Tire um tempo para processar as informações. Não deposite suas esperanças em político, muito menos seja ridículo ao ponto de morrer por qualquer um deles. Faça o seu voto ser um elemento de transformação social, ou não vote.
Seja, você mesmo, maior que qualquer ideologia política e mais decente do que eles, para então, poder cobrar reciprocidade.