Eu tenho um jardinzim
Dentro de mim
Com damas da noite,
Beijinhos brancos e hortênsias azuis.
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Tenho sim!
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E tudo reluz lá fora
Quando vejo a Aurora
Se esparramando
Sobre os roseirais.
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É canto que escuto
Meio fundo, meio raso
No miolo do meu ser
De um passarizim bravo
Anunciando o amanhecer.
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É que vivo numa saudade antiga
Numa casa de lamparinas
Amornada de cantigas
E feituras de bem-me-quer.
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E em tudo o que eu olho, eu vejo
Feito um vagalume, um lampejo,
A beleza de um jardim em mim.
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Nasci quase ontem mesmo
Não sei nada que não me ensinaram
Mas morro de inquietações
Providas de entusiasmo.
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Sou aquela mesma joaninha
A que outubrava sobre as folhinhas
Procurando um não sei que.
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Achei no dentro um remanso
Lugar pacato e de descanso
Que cheira a saudade e violão.
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É que vovó mora aqui dentro
Rega as minhas plantinhas
Borboleteia como as joaninhas
Faz de meu peito um lugar bom.
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Quando eu crescer
Quero que meu jardim
E com ele, o passarizim,
Façam de mim uma nação.
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Pois abrigarei tanta gente,
Tanta planta, tanto bichinho,
Que farei desse jardim pequeno
Um santuário, para contemplação.
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É que dentro de mim cabe o mundo.
Inteirinho. No sossego. Na calmaria.
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E não haverá nem um dia
Sem amor. Sem paz.
Sem o canto de um passarinzim
Pousado em mim.
Do lado de dentro de mim.