O mulherio chegou
Homens! Dobrem suas pernas!
Façam o jato quente nas bocas mornas.
Palavras! Sempre elas!
O mulherio chegou! Mais respeito!
Não usam mais avental e lenço na cabeça.
Torcem pra cair cabelo na sua comida.
Se lavem! Se manquem! Se raspem!
Elas já não se penduram nos seus pescoços,
Mas brincos em suas orelhas e brincam com elas.
Não parem mais filhos feitos em sua barriga,
Preferem o gozo, as tripas vazias, a coluna reta.
É desurgente a companhia da sombra,
Essa que não brilhou em suas pálpebras
No último carnaval, porque ela não alisou as cortinas,
Nem se atreveu com as maçãs, apenas piscou o olho
E lá estava o desconhecido. Esse sim, urgente! Urgentíssimo!
A pressa em reconhecer-se num estranho,
Numa boca nova. Num batom emprestado.
Carmim, pra mim. Obrigada! De nada!
Fez bem, meu bem, em não estar aí na hora certa,
Na hora exata, no ponto G, ou no de ônibus!
Fez bem em tirar as sandálias antes de penetrar
O peito dela, o corpo dela, a genitália dela!
O cordão no seu pescoço é ligado à placenta dela.
Vocês estão nus no mundo. Nas sessões de tomates.
Ruborizados feito sangue menstrual,
Porque chegou o tempo dela.
E no tempo dela, ela sangra. Ela mata.
Homens! Dobrem suas pernas!
Façam romaria e penitência em honra dela.
Tragam ramalhetes de flores para a coroa dela.
Honrem cada parte dela. Do corpo dela.
Porque sem ela, vocês não são!
Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 06/03/2025