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Cyntia Pinheiro
Uma mulher subiu na mesa do bar e fez da saia um disco voador
Textos
Nos tempos do Onça

Quero falar de um “mondicoisa” (como boa mineira) aqui nesta crônica. Andei pensando e, como todo bom CID F90.0, é difícil ordená-las. Tentarei, talvez. Mas não ando muito disposta, ultimamente. Provavelmente farei uma jogatina com as palavras e, salve-se quem puder!
Quem nunca ouviu a expressão “Nos tempos do Onça”? Muita gente não ouviu, porque isso é coisa antiga, sinal de que sou antiga, porque já ouvi e até já cantei uma valsinha que dizia: “Ó que saudades eu tenho daquelas valsas do tempo do Onça”... O que eu não sabia (e descobri somente hoje, lendo) é que o “Onça” foi um apelido atribuído a um coronal de infantaria chamado Luís Vahia Monteiro, que foi governador do Rio de Janeiro entre 1725 a 1732. Monteiro teria enviado uma carta ao rei Dom João V, dizendo: “Senhor, nesta terra todos roubam, só eu não roubo”. Sim, o Brasil já nasceu maculado pela corrupção. A corrida pelo ouro que brotava das pedras e águas em Minas Gerais, despertou a cobiça de Portugal e de muitos estrangeiros. Dizem que nos tempos do Onça é que era bom! Para mim, não era. Bom é agora, apesar dos pesares e com muitas e muitas ressalvas.
Ontem lancei meu segundo romance, Ayong. Não vou falar dele aqui. Não agora. Ayong merece um texto só pra ele. A noite de ontem foi memorável. Como está na moda dizer: foi leve! E foi mesmo, gente que sintoniza na mesma vibração. Até a paleta foi mais para os tons de azul, que se viam nas roupas dos escritores e convidados. Os sorrisos genuínos, as alegrias incontidas. Coisa que talvez não existisse nos tempos do Onça, que era tempo de escravidão.
A mulherada entendeu o sentimento de sororidade que nos agrega. Era possível sentir, ver nos olhinhos brilhantes da plateia, a torcida genuína, a verdade afetiva que temos umas pelas outras. Maria Silvério foi um caso de amor à parte! Brilhante oradora! Grande pesquisadora e jornalista! Prendeu as atenções do começo ao fim! E eu já li seu livro, posso recomendar sem medo de errar, é irretocável! E Renilson? Ah, Renilson é sensacional! É um ser humano performático e cheio de carisma! Uma alegria dividir esse momento com ele.
Ontem recebi logo pela manhã uma linda orquídea, com chocolates finos e um belíssimo cartão das minhas amigas da “diretoria”, um grupo afetivo que existe há quase vinte anos. Um mimo finíssimo pelo lançamento de Ayong. Uma demonstração de afeto que eu nem sei como mencionar e corresponder. Muito menos como agradecer! Nada que eu faça será capaz de equivaler a algo tão incrível, tão mágico e tão especial.
E, por fim, tenho que falar de Ucho. Descobri Ucho na internet não faz muito tempo. Elis me apresentou e me trouxe seu livro cheio de Catrumanidades. Que livro! Que livro espetacular! Ucho chegou sorrindo e eu, com minha displicência natural, correspondi ao sorriso, mas sem saber que era ele. Só mais tarde, quando ele me pediu que autografasse Ayong, eu soube. E foi até engraçado... Perguntei “qual é mesmo seu nome?” e ele simpaticamente respondeu “Ucho”. Diante de minha perplexidade, por só então estar me dando conta que bem ali, na minha frente, estava um ídolo, ele soletrou U-C-H-O. Não precisava, e me lembrei do “Hugo” do Ariano Suassuna. Mas fiquei tão parada, que ele achou que eu não estava sabendo como escrever seu nome. Então eu respondi: “Espere aí, você é Ucho, não acredito! Preciso me levantar e te dar um abraço!” Ao que ele respondeu: “Te vejo tanto na internet que achei que já nos conhecíamos! Adoro seus poemas!”
A noite, que já estava ganha, ganhou um plus! Meu ídolo é também meu fã! E eu fiquei sem palavras para aquele autógrafo, o que dizer para um cara como Ucho? Seria mais fácil nos tempos do Onça? Não... não seria... Coloquem em suas cabeças, nos tempos do Onça não era nada melhor que hoje. Aliás, dia nenhum será melhor do que hoje, porque hoje rememoro o ontem, hoje estou aqui embriagada de felicidade sonhando com os abraços que ganhei, os amigos que reencontrei e todo carinho que recebi.
Tudo isso vai passar, que pena! Talvez, lá na frente, eu conte aos netos e bisnetos que aquele lançamento aconteceu “nos tempos do Onça”, pois haverá uma distância imensa entre o que hoje tem apenas vinte e quatro horas, e os muitos anos que ainda me separam da velhice. Então direi: “nos tempos do Onça é que era bom!” Um sofisma. Nos tempos do Onça nada era bom, lembro-me bem. Talvez nos tempos “daquele” Onça, não, mas dessa Oncinha aqui, pode apostar ... Tudo é muito bom, pois como sempre digo, a felicidade é a alma gêmea da gratidão e essas são duas coisas que carrego comigo e espalho por aí girando, feito um girassol, na brisa que bate no alto de um pé de manga, cheio de passarinhos (quem esteva lá ontem sabe do que estou falando)...





Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 14/04/2025
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