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Cyntia Pinheiro
Uma mulher subiu na mesa do bar e fez da saia um disco voador
Textos

 

 

Conheci a escritora espanhola Rosa Monteiro este ano, 2025. Foi através da amiga e também escritora Elisane Amaral, que teve a iluminação de apresentar-me à riquíssima literatura de Rosa.

Por enquanto li apenas dois de seus livros: A louca da casa e O perigo de estar lúcida. E é tanta informação, tanto ensinamento, que é impossível assimilar tudo lendo apenas uma vez. É nessas horas que lamento profundamente a minha péssima memória, mas com Rosa pude compreender melhor essa minha condição de desmemoriada.

A autora explica, mencionando incontáveis fontes (científicas, literárias, psicológicas, simbiogenéticas, filosóficas, etc), como funciona a mente de uma pessoa criativa. Eu, criativa que sou, me vi diante de muitos quadros esclarecidos por ela. A desconexão com a realidade, o acesso ao inconsciente que frutifica através da arte, a tendência depressiva e adictiva, a incapacidade de organização, o medo da loucura, os excessos e a intensidade em relação à vida, a infância marcada por algum fato ligado à morte, a necessidade de produzir como meio de manter-me viva e por aí vai...

Talvez a partir de agora eu passe a compreender melhor meus estados de ânimo por vezes depressivo, por vezes de incontida euforia. Mas, claro! Isso é natural do ser humano, entretanto, com Rosa compreendemos que a cabeça do artista funciona de forma dissociativa e tudo parece colossal e mastodôntico.

Ela nos cita Sylvia Plath, Clara Schumann, Clarice Lispector, Virgínia Woolf, Nelly Arcan, Nietzsche, Baudelaire, Van Gogh, Walter Benjamin, Gilles Delleuze, Théodore Gericault, Gaetano Donizetti, dentre muitos outros artistas geniais e suas loucuras, manias e tendências depressivas, jogando luz sobre a trágica vida de Janet Frame. São histórias verdadeiramente cortantes, mas não deixando de ser sublime a arte que daí resulta.

Ao final, apresenta na íntegra uma entrevista que fez com a escritora Doris Lessing em 1997 para o jornal El País, entrelaçando a miséria da velhice solitária, da excentricidade e da síndrome de Diógenes, sem deixar de ancorar seu olhar sobre a genialidade da autora.

Rosa Montero é daquelas escritoras contemporâneas que assustam pela sagacidade, clareza e genialidade. Mas não aquela genialidade idealizada, mística e que já “vem de fábrica”. É notável seu esforço para a edificação de uma qualidade literária, conquistada com muita leitura, estudo e empenho.

É extensa a lista de livros que ela menciona e o rol que disponibiliza ao final para consulta. Eu diria que é generoso, tendendo ao altruísmo, já que não estamos habituados à partilha em um meio tão ligado ao ego.

Estou fascinada por sua escrita. Oxalá um dia eu chegue à pontinha do seu dedão do pé! Seguirei lendo Rosa e aprendendo com ela. Acho que você deveria experimentar também. Vamos?

 

 

Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 12/08/2025
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